Seminário na USP debate licenciatura indígena

Por Frederico Vreuls

Na manhã desta terça feira (28), o seminário “Presença Indígena na Universidade”, realizado na USP, abriu espaço para o debate sobre as licenciaturas interculturais indígenas. A mesa teve como propósito a troca de experiências entre idealizadores e participantes de cursos para a formação de professores indígenas, que visam sua capacitação para atuarem em escolas de nível fundamental e médio, dentro das reservas.

Segundo a pesquisadora Maria do Carmo Domite, da USP, tais cursos têm por princípio a dinâmica e o movimento entre culturas, a preocupação com a preservação dos conhecimentos tradicionais e o reconhecimento sociopolítico do direito à diferença. “Nós trabalhamos a partir das questões já trazidas e formuladas pelos professores indígenas, buscando uma organização e interação entre os diferentes saberes”, relatou. Entre os resultados obtidos, encontram-se materiais didáticos e dicionários bilíngues produzidos em conjunto entre acadêmicos e indígenas.

O cacique tupi-guarani Ubiratã Gomes, que participou do curso na USP, frisou como essas iniciativas são de fundamental importância. “A escola em que eu estudei era estranha dentro da aldeia. Os professores não eram indígenas e era imposto que não podíamos falar na nossa língua e nem praticarmos a nossa cultura tradicional”, compartilhou.

Hoje, as perspectivas são outras, e a escola passa a ser enxergada como local de revitalização da cultura e língua tradicionais. Para Meire Adriana da Silva, da UNIFAP, porém, os resultados ainda são poucos. “Houve avanços na questão da valorização e afirmação da identidade étnica, mas agora devemos superar essa fase e sistematizar o conhecimento”, afirmou. Entre as dificuldades citadas pela pesquisadora, que atuou em universidades do Amapá e do Mato Grosso do Sul, está a de estruturação e definição de eixos metodológicos e prioridades devido à diversidade de povos e etnias.

Apesar dos diferentes contextos, Meire enfatizou que muitos dos problemas enfrentados são semelhantes, entre eles o rebaixamento e a inferiorização dos conhecimentos indígenas e dos mais velhos, a mudança dos hábitos e o abandono da medicina tradicional. Para o indígena Aikyry Wajãpi, da UNIFAP, a solução passa pelo fortalecimento do trabalho dos pesquisadores na prática, e não apenas na teoria, a fim de estarem aptos a lidar com as dificuldades de cada povo.

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