Seminário realizado na USP aponta desafios de acadêmicos indígenas

Por Frederico Vreuls

O seminário “Presença Indígena na Universidade” reuniu, durante três dias, acadêmicos indígenas e não indígenas envolvidos com a questão do ensino superior dos povos autóctones. Na manhã desta quarta feira (29), os participantes da mesa “Experiências de Pós-Graduação” suscitaram questões como o choque de culturas, a integração de saberes, a discriminação e o futuro dos novos mestres e doutores indígenas no Brasil.

Almires Martins Machado, guarani da UFPA, falou sobre as visões distorcidas com que são normalmente enxergados os estudantes universitários indígenas. A primeira citada foi a ótica do privilégio, ou seja, quando a pessoa é tida como privilegiada por conta das políticas de ações afirmativas, como as cotas. A segunda, foi a ótica da invisibilidade, quanto o estudante não é identificado como sendo diferenciado, e consequentemente não recebe tratamento adequado como tal. Finalmente, o terceiro ponto de vista é o do preconceito, quando o indígena é associado aos estereótipos de preguiçoso, festeiro e incapaz.

Para Almires, é então imprescindível pensar as questões da permanência, e não apenas do acesso, relacionando os eixos estrutural e cultural. Enquanto o primeiro é responsável por um acompanhamento acadêmico, como por exemplo, através de monitorias, o segundo trata da criação de momentos de confraternização entre indígenas e não indígenas, a fim se trabalhar a afinidade.

O professor Gilton Mendes, da UFAM, confere tais impasses à universidade na medida em que ela é, por excelência, um local de apropriação do conhecimento científico, que, segundo ele, tem a particularidade e a natureza de ser excludente da diferença. Márcia Nascimento, mestranda da UFRJ, refletiu sobre a necessidade de adaptação dos currículos que são impostos pelo Estado à realidade dos povos indígenas. Pertencente à etnia kaingang, Márcia contou como o seu povo sofre dificuldades em relação às regras da universidade e ao discurso subjetivo. “Para os kaingang, quando temos de fazer alguma coisa nós vamos e fazemos, e não ficamos tanto tempo falando”, comparou. Contudo, Márcia acrescentou sobre as possibilidades de contribuição da cultura indígena às teorias acadêmicas, como no caso da linguística.

O isolamento que sofrem aqueles que finalizam seus estudos também é uma questão que preocupa. Segundo Márcia, a maioria dos índios que saem de suas aldeias para estudar, nutrem expectativas de voltar e prover algum tipo de retorno. É comum, porém, que após o desligamento da universidade esse objetivo seja dificultado, principalmente pela dependência de recursos e por não existir um mercado de trabalho esperando por esses profissionais dentro das comunidades. Esses indivíduos formados, mas que não conseguem se inserir e efetivar uma participação social, trazem à tona que a universidade não tem conseguido exercer plenamente a sua função. Como meio para solucionar casos como esse, Márcia apontou a necessidade de uma organização própria de estudantes e profissionais.

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