“Todo mistério tem dono!”

Ritual, política e tradição de conhecimento entre os Pankararu

Claudia Mura

Não se trata aqui de um esforço para compreender os indígenas em uma alteridade evidente e a priori, tal como ela é exibida aos visitantes nas maravilhosas celebrações das máscaras e na materialização de entidades religiosas que, já ao primeiro olhar, remetem a uma outra cosmologia. O trabalho de Claudia Mura toma decididamente outra direção, assumindo como seu foco justamente aquilo com o que a literatura etnológica lida com tanta dificuldade: as zonas de contato, nas quais instituições e performances nativas surgem ao pesquisador misturadas com outras que parecem de origem exógena. A palavra sincretismo, no entanto, usada como tanta frequência e de modo inadequado como uma categoria analítica, e que carrega consigo um forte apelo essencializador, aqui não terá mais lugar.

É a questão dos fluxos e tradições culturais – espaço privilegiado dos processos de ressemantização, das duplicidades e sobreposições de significado, das ambiguidades e indeterminações (apenas resolvidas pela análise da praxis e das especificidades de contextos) – que constitui o centro de sua etnografia. Longe de buscar uma suposta autenticidade em seu objeto de pesquisa, a narrativa de Claudia Mura tem como rumo perceber como os Pankararu podem ser igualmente índios e sertanejos, praticando tanto o ritual do praiá quanto integrando as irmandades de penitentes, componentes igualmente importantes da tessitura do coletivo que constituem.

Garanta aqui o seu exemplar desse livro.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *