Seminário discute caminhos para uma educação intercultural

Por Frederico Vreuls

O seminário “Presença Indígena na Universidade”, sediado na USP, debateu nesta terça feira (28) o tema graduação indígena. A mesa contou com a presença de pesquisadores e estudantes de diferentes universidades do país, traçando um panorama das principais questões e desafios quanto ao sucesso acadêmico de indígenas.

A Dra. Marta Regina Brostolin apresentou o projeto Rede de Saberes, do qual é coordenadora local na UCDB. Criado em 2005, o projeto tem como foco o apoio às ações de permanência dos estudantes indígenas em cursos regulares e a criação de espaços e estruturas que os auxiliem na ambientação na faculdade. Algumas das iniciativas desenvolvidas nesse intuito estão a realização de encontros de acadêmicos indígenas, a formação de cursos de extensão e de grupos de estudo por áreas temáticas, tais como educação, sustentabilidade agrária, direito e saúde. Marta ressaltou que o Rede de Saberes busca fornecer suporte acadêmico, e não produzir medidas assistencialistas.

Para a Dra. Clarice Cohn e para o estudante Jaime da Silva, índio mayuruna, ambos da UFSCar, é necessária a integração entre os saberes tradicionais e os científicos e que a formação universitária pessoal traga repercussão para as comunidades de origem. Jaime afirmou que não é preciso atuar necessariamente dentro da aldeia para estar junto a seu povo. Como estudante de Ciências Sociais, garante que há muito a ser feito na cidade para implementação de políticas públicas que possibilitem o sustento das comunidades. Clarice citou como medida para o acompanhamento de estudantes indígenas a concessão de bolsas de iniciação científica, através da qual ela mesma já foi orientadora.

O professor Maxim Repetto, da UFPR, no entanto, chamou atenção para o fato de que é preciso abandonar a visão idealizada que se tem a respeito da interculturalidade como um simples diálogo entre culturas. “Quando falamos em interculturalidade, falamos de uma relação de imposição e dominação, e a universidade se inclui nisso”, advertiu. Maxim enxerga assim a interculturalidade como uma maneira de abrir espaços dentro de um campo de conflito para minar o etnocentrismo e a visão de inferioridade a respeito do conhecimento indígena. Sua preocupação é assim voltada para a construção de ferramentas de trabalho propositivas em relação à educação intercultural, “que em certo sentido constitui uma utopia, mas não uma utopia alienante, e sim de construção de alternativas concretas”, pontuou.

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