Rotas da Alforria – Trajetórias da população afro-descendente em Cachoeira, na Bahia (IPHAN)

Pesquisadores

Márcia Regina Romeiro Chuva (Coordenação)
Rafael Winter Ribeiro
Renata Sá Gonçalves
Beatriz Cepelowicz Lessa

O projeto Rotas da Alforria, em desenvolvimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em parceria com o LACED, tem como o objetivo atuar na região de Cachoeira e São Felix, associando a preservação de seu patrimônio cultural à criação de estratégias de fomento e à produção cultural das comunidades tradicionais locais.

Com essa finalidade, o projeto realiza pesquisas bibliográficas e documentais e trabalhos em campo, que investigam as práticas culturais vigentes no território, assim como os espaços e os bens materiais aos quais elas estão associadas. Como resultado dessa produção de conhecimento, o projeto desenvolve ações de divulgação das informações processadas, como a produção de materiais para-didáticos; desenvolve projetos de fortalecimento da memória local, como a qualificação do espaço do Memorial da Irmandade da Boa Morte, e busca o estabelecimento de parcerias visando a implantação de projetos participativos, que promovam a manutenção de práticas culturais tradicionais como estratégia de desenvolvimento regional.

Na sua primeira etapa, realizada de janeiro a setembro de 2005, o projeto contou com uma equipe multidisciplinar (antropólogos, arquitetos, historiadores, geógrafo, museólogo, etno-musicólogo), que utilizou criticamente a metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC, visando formular uma abordagem territorial, inexistente. A pesquisa se debruçou especialmente sobre a cidade da Cachoeira: a um só tempo núcleo articulador de outras localidades, como Belém de Cachoeira e Santiago do Iguape, e lugar de práticas culturais, cotidianas e extraordinárias, como celebrações, procissões, festas, culinária, artesanato, músicas, ofícios e saberes, que detêm sentidos e valores sociais atribuídos por seus produtores e praticantes. Compreender esse território em profundidade no tempo é a forma de atribuir valor de referência às práticas culturais que ali se condensam hoje: dos diferentes modos de morar à diversidade de expressão da fé e de religiosidade; das formas de comunicação e intercâmbio entre diferentes grupos e as localidades que compõem o território aos tradicionais e criativos modos de fazer a própria sobrevivência. Todas elas são heranças reapropriadas e transfiguradas em suas formas e usos, por contínuas gerações, e atualizadas por meio do trabalho da memória, no presente.

O conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de Cachoeira foi tombado em 1971, mas já em 1938 e no início da década de 1940 diversos edifícios de valor histórico e artístico haviam sido protegidos.

Além da importância histórica e da imponência da sua arquitetura, Cachoeira concentra práticas culturais relacionadas à forte presença de uma população afro-descendente que fez dali lugar de resistência negra das comunidades remanescentes de quilombos e dos antigos engenhos de açúcar, que coalhavam a região do Iguape e que estão na base do extenso calendário de festas tradicionais. Em toda essa região, vigoraram saberes que perpassam gerações, como o ofício das charuteiras, a manufatura de farinha, a mariscagem, a música das filarmônicas e muitos outros.

O importante acervo documental sobre a cidade, acumulado desde 1938, nos arquivos do IPHAN de Salvador e do Rio de Janeiro, também tem a atenção desse projeto, que optou pela idéia de preservação integrada. Assim, cuidar dessa documentação para permitir o amplo acesso a ela é também cuidar da cidade da Cachoeira, respeitar seus descendentes e garantir a todos nós o direito à memória.

Em agosto de 2007, foi iniciada a 2ª etapa do projeto, com previsão de 8 meses de duração, visando o desenvolvimento da fase de identificação do INRC, em práticas e manifestações culturais referenciais identificadas na primeira etapa. Será pesquisada a Feira de Cachoeira, como nó central que articula o centro urbano a todo o território da Cachoeira, sendo capaz assim de valorizar o patrimônio de modo integral (material e imaterial). Através da feira, será possível abranger as redes de sociabilidade que incluem a região de produção de farinha (Belém da Cachoeira); a região de mariscagem e de produção do dendê (na área das comunidades remanescentes de quilombos no Iguape); e a região do cultivo do fumo, cada vez mais em mãos de grandes grupos, associada à área urbana através dos grupos de mulheres que trabalham em regime doméstico com alto grau de exploração familiar como capeadoras de charutos. As festas da Boa Morte e da Ajuda, com forte apelo religioso também serão destacadas nessa etapa, como nós das redes de sociabilidade estabelecidas no território da Cachoeira, que agregam grupos com clivagens distintas que se interrelacionam. Pretende-se, também, realizar o mapeamento dos terreiros de candomblé existentes no território da Cachoeira, integrando assim laços de sociabilidade a partir da religiosidade.

Da parte do IPHAN, integram-se nesse projeto diferentes setores sob a coordenação da Gerência de Pesquisa e Referência da Cordenação-Geral de Pesquisa, Documentação e Referência – COPEDOC: o Departamento de Patrimônio Imaterial – DPI; o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular – CNFCP; e a Superintendência Regional da Bahia – 7ª SR.

Financiamento

1ª ETAPA – Fundo Nacional de Cultura – MINC
2ª ETAPA – Recursos orçamentários do IPHAN

Faça aqui o download do Relatório parcial (PDF)

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *