Seminário possibilita troca de experiências sobre ensino superior para indígenas

por Frederico Vreuls

Durante os dias 27, 28 e 29 de agosto, realizou-se o Seminário Presença Indígena na Universidade, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP). O seminário foi organizado pelo Centro de Estudos Ameríndios (CEstA-USP) e pretendeu debater os desafios, impasses e resultados dos diferentes programas de inclusão hoje existentes, como políticas de seleção/vestibular, atividades de acompanhamento, avaliação de aproveitamento, critérios de identidade étnica, ensino à distância e presencial, formação acadêmica e cursos de extensão, dentre outros.

Para Mariana Paladino, pesquisadora da UFRJ, destacou-se a qualidade das apresentações dos acadêmicos e profissionais indígenas e a clareza de suas ideias e escolhas. “As trajetórias de vida e interesses diversificados, ou mesmo contrastantes, evidenciam apropriações diferenciadas da educação escolar. Porém, todos chamaram a atenção ao fato de que os estudos estão possibilitando a sua autorrepresentação e a contestação das categorias e das visões impostas pelos antropólogos e outros especialistas de índios”, afirma.

O conceito de interculturalidade foi problematizado como discurso e como colocá-lo em prática. Segundo Mariana, alguns dos estudantes e profissionais indígenas presentes se mostraram mais preocupados com a transmissão dos conhecimentos tradicionais, enquanto outros, com os da sociedade envolvente. “Foi posto também em questão o que seriam os conhecimentos indígenas ou tradicionais, enfatizando-se a importância de não reduzi-los a um saber prático, local e parado no tempo, mas sim reconhecer seu caráter criativo, dinâmico e complexo, não limitado aos conteúdos e abrangente também às metodologias e formas de transmissão de saberes”, esclarece.
Conforme ainda relata a pesquisadora, foi discutida a eficácia da “escola especifica e diferenciada”. Para alguns participantes, por estar sendo implementada como um híbrido, não transmite o conhecimento legitimado pelas escolas não indígenas, ao mesmo tempo em que também não valoriza devidamente os conhecimentos específicos. “Pois, nesse caso, se deveria começar pela inclusão das línguas indígenas, garantindo o direito de escolarização nas línguas maternas, o que raramente acontece”, avalia.

O que torna a realização de eventos como esse de grande importância é a possibilidade de troca e diálogo entre as diferentes experiências de ensino superior indígena. A falta e dispersão de dados e informações ficaram evidenciadas pelas falas dos expositores, tanto em relação ao perfil do estudante indígena universitário, quanto à quantidade de estudantes indígenas nas diferentes IES e de bolsistas ou indígenas beneficiados por editais e programas de pesquisa existentes. Para Mariana, “o que se pode perceber, pelo seminário, é que de modo geral existe pouco conhecimento dos projetos e ações entre as diferentes instituições, a não ser em alguns casos de parcerias”.

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